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Entrevista com o Departamento de Relações Internacionais do Comité Central publicada na revista Jacobin

 

1) Que apoio espera o seu partido nas próximas eleições?

 

Resposta: O KKE disse a verdade ao povo, advertiu com tempo o rumo dos desenvolvimentos, previu como acabaria o governo do SYRIZA. Preveniu que o programa do SYRIZA e as declarações de Salónica prenunciavam o compromisso, o acordo com a UE e o novo e vergonhoso memorando. Era desde o início um programa antipopular, enroupado de algumas consignas de esquerda. Agora, depois da votação do 3º memorando pelo governo de “esquerda” do SYRIZA acompanhado da neoliberal Nova Democracia, do social-democrata PASOK, do centrista RIO e do partido nacionalista ANEL existem dados tangíveis e inquestionáveis que comprovam que, dentro da UE e na via única do capitalismo, nenhum governo pode executar uma política pró-popular. O capitalismo e as suas uniões internacionais como a UE não mudam o seu carácter com negociações, referendos, governos supostamente de esquerda. No quadro da economia capitalista qualquer governo é obrigado a cumprir as suas férreas leis antipopulares, que impõem o esmagamento do povo para reforço da competitividade, dos lucros e dos investimentos de capital.

 

Além disso, nos últimos 7 meses após as eleições de Janeiro, o KKE lutou ininterruptamente contra as medidas antipopulares e, ao mesmo tempo, propôs o caminho do desenvolvimento favorável ao povo e que apenas ao povo pertence. Lutámos contra as verdadeiras causas dos memorandos, que são a estratégia da UE e do capital em si, para ultrapassar a crise económica capitalista com novos lucros para o capital e uma força laboral ainda mais barata. O KKE foi o único partido que apresentou no Parlamento uma proposta de lei para a derrogação dos memorandos e das antipopulares 400 leis para a sua regulamentação. Por responsabilidade de todos os deputados do SYRIZA e dos que agora se separaram e criaram o partido “Unidade Popular”, o SYRIZA nº 2, aquela proposta nunca foi votada. Coerentemente, o nosso partido organizou a luta por medidas concretas de alívio do povo, pela solidariedade, pelo derrogação das leis antipopulares e anti-operárias, pela restituição das perdas, a cobertura das necessidades actuais, em ruptura com a UE, o capital e o seu poder.

 

No entanto, consideramos que o KKE nas eleições de Setembro terá de se reforçar mais, sem que ponhamos objectivos concretos. E isto porque, no momento em que o sistema político burguês “dá à luz” novos partidos políticos, isto é, quando o sistema político burguês procura a sua recuperação e a sua reforma, não concretizamos numericamente objectivos eleitorais. O objectivo político do KKE é o seu reforço sob todos os aspectos políticos, ideológicos, organizativos e eleitorais. Principalmente agora, que o povo já experimentou todos os tipos de governo burguês (social-democrata, de direita, de esquerda) e, tal como dizemos na nossa consigna central: “Já os experimentaste todos… Agora há uma solução com o KKE no caminho do derrube”.

 

2) Em que sectores do movimento sindical tem o partido mais influência?

 

Resposta: O KKE tem laços de sangue históricos inapagáveis com a classe operária e o seu movimento sindical. Os comunistas têm uma obrigação política, parte integrante dos Estatutos do Partido, de participar activamente no seu sindicato. Na Grécia, diferentemente de outros países, a estrutura sindical é única, ou seja, não há confederações baseadas nas opções políticas, mas confederações para o sector público e para o sector privado. Isto não quer dizer que dentro do movimento sindical não haja um combate político e ideológico intenso. No movimento sindical e operário estão em confronto duas orientações: Por um lado, a dos “diálogos sociais”, da colaboração de classes, ou seja da submissão da classe operária, que tem a maioria do sindicalismo governamental e patronal, por outro, a orientação da unidade de classe e de luta. Nessa orientação, concretizada na PAME ao longo dos últimos 16 anos, estão os comunistas. 

 

A PAME (Frente Militante de Todos os Trabalhadores) procura ter nas suas fileiras as forças mais vivas e militantes do movimento operário e sindical.

 

A PAME tem características pan-helénicas e é importante em todos os lugares e sectores da produção do sector público e privado sem qualquer excepção. Estas forças têm como orientação comum seguir o caminho da luta contra o capital, a União Europeia e o Governo. Opõem-se ao Imperialismo e às suas guerras.

 

Na PAME participam Confederações sectoriais de operários, empregados e pensionistas, Centros Operários, centenas de uniões de primeiro grau, quadros sindicais eleitos, Comités de Luta de operários e de empregados e Comités de Coordenação. A acção da PAME estende-se por toda a parte, na indústria e na educação, na construção e nos transportes, no turismo, no comércio e nos bancos, etc.. A PAME tem quase por todo o lado poderosas forças, sobretudo no sector privado da economia. Por exemplo, tem a maioria na Federação de Construções (que é a maior na Grécia), dos Medicamentos, na Têxtil, na dos Contabilistas, na de Bebidas e Comidas, na da Imprensa e Papel, grande força na Metalúrgica, na Hotelaria e Restauração, no Comércio, na Administração Local, nos empregados do sector privado, nas Telecomunicações. Tem a maioria em muitos Centros Operários (uniões territoriais de sindicatos) e sendo que é muito poderosa nos maiores Centros Operários de Atenas, Pireu e Salónica.

 

3) Quantos membros e quadros pensam que têm? Em que medida o partido se apoia no movimento estudantil?

 

Resposta: Tal como saberão, durante os quase 100 anos de existência do nosso partido sofremos perseguições, prisões, exílios, torturas e execuções. Hoje vivemos numa democracia parlamentar, mas não esquecemos que esta é também uma das formas da ditadura do capital, que recorre a forças e mecanismos diversos para reprimir o movimento operário-comunista. É por isso que não consideramos correcto dizer o número dos nossos membros e quadros. No entanto, podemos informar os vossos leitores que nas últimas eleições, em Janeiro de 2015, o nosso Partido teve 338 mil votos, 5,5%, elegeu 15 deputados ao parlamento nacional. Nas últimas eleições europeias teve 349 mil votos, 6,1%, e elegeu 2 deputados ao Parlamento Europeu.

 

No movimento estudantil há eleições para os conselhos das associações estudantis todos os anos. Nos últimos anos, a Panspoudastiki, o agrupamento eleitoral apoiado pela KNE, a juventude do KKE, apresenta um crescimento estável, e este ano foi a 2ª força, concentrando 19% nas Universidades e 22% nas Escolas de Formação Técnica.

 

4) Como enfrentou o partido o Movimento das Praças e que opinião tem sobre a composição social de muitos dos movimentos sociais que apareceram nos primeiros anos da crise?

 

Resposta: O chamado “movimento das praças”, que se apresentava como “não partidário”, foi ddivulgado pelos grupos de meios de comunicação burgueses, propriedade dos capitalistas. A sua concepção de democracia é no mínimo hipócrita, tal como a sua suposta aspiração de unir o povo, fora das classes, apresentando uma posição antimemorando muito confusa. Na prática, a sua posição “fora com os partidos”, “fora com os sindicatos” das praças foi uma posição totalmente reacionária. Ao mesmo tempo que se opunham ao memorando e às suas medidas brutais, não diziam nada contra o governo, contra a UE, as forças políticas que estão de acordo com esta política. Pelo contrário, só falavam dos políticos, classificando-os todos como “traidores”, arrasando assim também o KKE, que metiam no mesmo saco das forças burguesas, tal como misturavam os sindicatos de classe com os sindicatos que seguem uma política de compromisso. Não é por acaso que este movimento foi utilizado, entre outros, pelo partido fascista “Aurora Dourada”, que viu a sua “clientela” eleitoral crescer depois do aparecimento deste movimento, que preparou ideológica e politicamente o terreno, para que o criminoso Aurora Dourada lançasse as “sementes ideológicas” da desorientação fascista.

 

Sobre a sua composição de classe, este movimento dirigia-se às camadas pequeno-burguesas que eram violentamente destruídas pela crise capitalista e a alguns sectores da classe operária politicamente atrasados, ou a elementos lúmpen. Foi ainda apoiado por sectores da classe burguesa, meios de comunicação de massas que publicitaram o “movimento das praças” e outros movimentos idênticos como o “movimento da batata barata”, com o fim claro de desorientar os trabalhadores, de procurar que eles se afastassem das organizações de classe organizadas, que têm por objectivo a ruptura com os monopólios, o capitalismo e a UE. E também para que as camadas populares não percebessem quem eram os verdadeiros responsáveis e quais causas da crise capitalista, para que não se apercebessem da única alternativa favorável ao povo, a que propõe o KKE, a que consiste na socialização dos meios de produção, na eliminação unilateral da dívida, na planificação central da economia, na saída das uniões imperialistas UE e OTAN, com o povo no poder.

 

5) Como avalia o partido a experiência de participação no governo em 1989? Porque é que o partido, então, participou num governo burguês com a Nova Democracia? O que é que mudou na análise do partido desde então?

 

Resposta: O KKE tem experiência da participação em dois governos sucessivos em 1989-1990, no primeiro com o partido liberal (ND) e no segundo com a social-democracia (PASOK). As participações nestes governos foram por razões muito particulares. Então, após as eleições, nenhum partido tinha votos suficientes para formar um governo de maioria, e se as eleições fossem repetidas davam aso a um escândalo económico e político em que – segundo a acusação – estava envolvido o primeiro-ministro social-democrata e outros ministros do PASOK.

 

O nosso Partido foi prejudicado por esta participação, apesar pela natureza transitória destes dois governos até às eleições seguintes, evitando prejudiciais retrocessos o que fez com que parte do povo, instigado pela social-democracia, tivesse acusado o partido de ter feito uma aliança nefasta. Perdemos votos, mas o mais importante não foi isso, mas o facto de se ter defendido (num período em que o oportunismo se expressou dentro do partido) a concepção de que a recusa de participação do partido num governo burguês não é uma questão de princípio. Mas o pior foi a aceitação da ideia que, num momento importante em que o sistema político burguês encontra dificuldades, o KKE teve que pôr de lado a sua estratégia e apoiar a formação de um governo dentro da lógica do chamado programa mínimo, o que não só não provoca brechas no sistema político burguês como lhe dá a oportunidade de recompor as suas forças.

 

Há pouco tempo, em meados de 2012, foi feita uma enorme pressão sobre o KKE para aceitar participar num governo “de esquerda”, como se denominou, com forças oportunistas que tiveram muita força parlamentar devido ao desmantelamento da social-democracia, em condições de crescente pobreza devido à crise capitalista que rebentou na Grécia e na zona euro. O súbito aumento do oportunismo no Parlamento não foi exclusivamente uma consequência do enorme descontentamento popular, mas também da mudança massiva de votos e de um grande número de quadros da social-democracia. Para esta saída de forças para o oportunismo (SYRIZA) contribuíram, também, sectores da burguesia que se aperceberam da necessidade de formar um novo polo social-democrata, antes que as massas operárias e populares se encaminhassem para uma verdadeira radicalização.

 

Então, o KKE analisou que também o governo do SYRIZA serviria os interesses da UE e da OTAN, como no final se verificou. Tivemos importantes perdas eleitorais por causa da recusa de apoiar e participar num tal governo, porque parte dos nossos votantes foi para o partido oportunista, preferindo, então, uma solução política que pensavam mais fácil. Pensaram experimentar “pela primeira vez a Esquerda” e as suas atractivas consignas que se vieram a verificar vazias.

 

O que é que na prática se comprovou? Que o governo “de esquerda” do SYRIZA, com a sua parte “nacionalista” do ANEL, não só não derrogou as anteriores medidas antipopulares como, com o 3º memorando, acrescentou novas e gravosas medidas. Além disso, comprovou ser um fiel aliado dos imperialistas dos EUA, da OTAN e da UE. Chegou a propor aos EUA e à OTAN uma nova base militar no mar Egeu (Karpatos), o que nenhum governo de direita se atreveu a fazer com medo da reacção popular. Por tudo isto, os que agora se desvincularam da “Plataforma das Esquerdas” para fundar o SYRIZA nº2 com o nome de “Unidade Popular” (Laiki Enotita) nunca expressaram nenhuma objecção essencial, bem pelo contrário. Os seus quadros, como por exemplo o ministro da Energia, o ministro da Defesa, etc., apoiaram a implementação e a programação de novas medidas antipopulares e um mais intenso comprometimento com os EUA e a OTAN.

 

Hoje há ainda mais provas de que no sistema capitalista, um governo formado na base do direito eleitoral não pode ser o ponto de partida para uma governação favorável à classe operária, e às restantes camadas populares. Não pode obrigar os capitalistas a diminuírem os seus ganhos a favor dos trabalhadores, principalmente quando o sistema capitalista tem dificuldades em alcançar a produção capitalista ampliada que antes conseguia. Em capitalismo, os comunistas tem que ser uma força estável de oposição operária e popular, dentro e fora do Parlamento, para fortalecer as lutas de classe e concentrar forças para o derrube. Ou seja, não pode deixar-se arrastar atrás de nenhum governo de gestão burguesa. Porque, quando um governo gere o destino do povo e do país acorrentado aos grilhões da UE, e na via do apodrecido desenvolvimento capitalista, apenas chegará a novos governos, antipopulares, independentemente da sua caracterização “de esquerda!” ou “de direita”.

 

Para que o povo se liberte de todos os governos antipopulares e da sua política é necessário tomar o poder. Lutamos por um tipo superior de organização da economia e de toda a sociedade. Com propriedade social, planificação central e controlo operário. Então, obviamente, o KKE será protagonista na governação do país.

 

6) O que pensa o partido da zona euro, está a favor de uma saída do euro, inclusive para pôr a Grécia numa melhor posição para uma saída socialista mais radical?

 

Resposta: O KKE tem uma proposta coerente e fundamentada, com base na concepção teórica científica do marxismo-leninismo. Está claro que a Grécia do poder operário e popular pela qual lutamos está fora da UE e da OTAN, onde os meios de produção serão socializados. Ou seja, serão propriedade popular, onde a economia funcionará na base da satisfação planificada das necessidades populares actuais, e não sobre a base de lucros do capital, terá a sua própria moeda popular e não o euro. É totalmente diferente do que propõem sectores da burguesia na Grécia, na UE e na Alemanha, onde se fala abertamente da possibilidade da saída da Grécia, e possivelmente de outros países da zona euro, e do regresso à moeda nacional. O que significa hoje para os trabalhadores e restantes camadas populares o regresso a uma Grécia capitalista com moeda nacional? Significará a pauperização do povo, a degradação violenta da sua vida. Que beneficiará com isso? Tal como hoje, uma vez mais os beneficiados serão sectores da burguesia, por exemplo os que levaram os seus depósitos para o estrangeiro, os que pensam que com a moeda nacional voltarão mais rapidamente ao ritmo dos lucros.

 

O que procuram, com o dracma ou com o euro, é deixar intocável o caminho do desenvolvimento capitalista que só nos leva à crise, ao desemprego, é um falso dilema e uma chantagem que quer preservar a riqueza e os benefícios para uns poucos.

 

Não é uma saída para o povo o dracma que desejam Scheuble, Le Pen, Soros, os eurocépticos britânicos, e também os facistóides da Europa e o Aurora Dourada no nosso país, já que o povo continuará a sacrificar as suas necessidades no altar da competitividade dos monopólios, que continuarão a ter nas suas mãos as chaves da economia.

 

Acaso não é isso o que se está a passar em países capitalistas com moeda nacional (Bulgária, a Roménia e outros países) ou que participam noutras alianças? Em todos os países capitalistas, dentro e fora da zona euro, os direitos populares têm sido esmagados e golpeados pela crise capitalista. A diferença entre os que vêem com bons olhos a moeda nacional e os que falam do caminho único para a zona euro, é que os primeiros chamam o povo a sacrificar-se pela recuperação do capitalismo através de uma moeda nacional desvalorizada interna e externamente, enquanto os segundos querem-no fazer através de medidas de desvalorização interna da moeda, para o que também será necessário um ou mais memorandos.  

 

Tudo isto também é válido para o SYRIZA nº 2, a Unidade Popular, que defende a mesma propriedade e o mesmo poder capitalistas que os outros. Confessam que querem que a moeda nacional seja a ferramenta do desenvolvimento antipopular.

 

Naturalmente que no nosso país há outros pequenos grupos esquerdistas, como o ANTARSYA, que apresenta a saída do euro em conjunto com outras medidas de gestão keynesiana, como a “etapa” num caminho de transformação socialista radical. Mas, interroguemo-nos se é possível a alienação com uma versão burguesa, com uma opção burguesa sobre a moeda e as medidas de gestão do capitalismo, ser a base de mudanças sociais radicais? Na nossa opinião em caso algum. Nenhuma medida de gestão burguesa pode colocar obstáculos ao rebentamento da crise capitalista nem acabar com a exploração capitalista. O derrube da barbárie capitalista não passa por uma simples alteração da moeda (Merkel ou Obama?) com a gestão do capitalismo.

 

A ofensiva do movimento operário só pode ter lugar com uma ruptura com a UE, o capital e o seu poder. Exige a derrota dos apoiantes do euro e da dracma que escondem quem é o verdadeiro inimigo do povo, da classe operária.

 

7) Que relações tem o partido com outros Partidos Comunistas “oficiais” do continente europeu, sobretudo com o Partido Comunista Português, que está disposto a colaborar com o bloco, diferentemente do KKE com o partido Unidade Popular?

 

Resposta: O KKE mantém relações com dezenas de partidos comunistas e operários. Contribuiu e continua a contribuir para a realização dos Encontros Internacionais de Partidos Comunistas e Operários que começaram em Atenas e foram acolhidos muitas vezes pelo nosso partido. O KKE apoia tanto as acções comuns dos Partidos Comunistas que se decidem nos Encontros Internacionais como o sistema de informação rápida entre eles, o http://solidnet.org/. Além disso, o nosso partido toma uma série de iniciativas a nível regional nos Balcãs, no Mediterrâneo de Este, na Europa, onde recentemente, por nossa iniciativa, se criou a “INICIATIVA de Partidos Comunistas e Operários e a coordenação da sua acção – http//:www.initiative.cwpe.org. Nesta “Iniciativa” comunista participam 29 partidos comunistas e operários europeus. Além disso, a nossa revista “Kommunistiki Epitheorisi”, juntamente com revistas teóricas de mais 10 partidos publicam em comum a “Revista Comunista Internacional” – http://www.iccr.gr.

 

Está claro que todas estas iniciativas de per si não podem ultrapassar as diferentes divergências ideológicas e políticas do movimento comunista internacional que, não ocultamos, nas últimas décadas sofre uma grave crise ideológica e política. Na nossa opinião esta crise será ultrapassada na direcção da defesa do marxismo-leninismo, da defesa da contribuição da URSS e dos restantes países socialistas e com conclusões úteis do seu percurso, do movimento comunista, conjunturalmente de apoio combativo às leis da revolução e construção socialista, do internacionalismo proletário. Neste sentido, é necessário a criação de um polo de Partidos comunistas que defendam o marxismo-leninismo e a estratégia revolucionária. Isto, naturalmente, não exclui a colaboração do nosso partido com os Partidos Comunistas com quem temos divergências graves ideológicas e políticas, em temas como a luta contra a OTAN, as forças imperialistas, o anticomunismo, em temas de solidariedade, etc..

 

8) Há elementos progressistas na burguesia grega?

 

Resposta: No passado, muitos Partidos Comunistas, sem excluir o nosso, optaram pela política de alianças também com forças da burguesia, as que se caracterizaram como “com pensamento nacional” contrapondo-as às “subservientes”, ou separavam-se em burguesia monopolista e não- monopolista, procurando a aliança com esta última. No 18º Congresso do nosso partido, em 2009, concluímos que esta divisão era errada, não tinha fundamento. Naturalmente, dentro da burguesia há diferenças, amiúde intensos conflitos em função gestão burguesa, da política monetária, das suas alianças internacionais, etc.. No entanto, estas diferenças internamente nada têm a ver com os trabalhadores.

 

Pensamos que a política do roubo dos países mais fracos e do abandono dos direitos de soberania não é consequência de nenhuma imoralidade política de uma parte da burguesia, nem de um sentimento de submissão ou cobardia por parte da burguesia do país. É uma consequência da sua posição no mercado capitalista internacional e da sua posição económica e político-militar no sistema imperialista internacional. Está relacionada com a interdependência desigual, com a desigualdade capitalista que caracteriza o sistema imperialista. Assim, a burguesia que sente que o seu parceiro mais forte não a trata como a um igual, sabe que não pode ser de outra forma porque, além do mais, a aliança com o parceiro mais forte assegura uma protecção política mais forte internamente, perante a agudização das lutas de classe.

 

Além disso, a burguesia, ou uma parte dela, está impossibilitada de defender os direitos de soberania do povo, mas unicamente pode defender o seu próprio interesse. E, se necessário, se se trata de um contrapeso ignorará os seus próprios interesses quando se trata de não perder o poder ou de o manter o mais possível.

 

A burguesia já há alguns séculos que deu à humanidade o que lhe poderia oferecer. É inútil procurar hoje vestígios de progressismo na burguesia, já que ela é 100% parasitária e o seu poder é uma “fonte” de crises e de guerras. Vivemos a época da necessidade da passagem do capitalismo ao socialismo, já que as condições materiais da organização socialista da produção e da sociedade estão maduras. E isto não o pode alterar as derrocadas contra-revolucionárias das últimas décadas. O nosso século será o século de novas revoluções sociais.

 

9) Qual é o programa mínimo do KKE e quais são as pré-condições mínimas para a sua participação numa aliança mais ampla da esquerda?

 

Resposta: O KKE, desde 1996 (no seu 15º Congresso) que ultrapassou a lógica das “etapas” para o socialismo que os programas mínimos implicavam.

 

Pensamos que na época da passagem do capitalismo ao socialismo não há lugar para posições políticas que enrolam a classe operária na gestão burguesa sob a forma de etapas intermédias entre o capitalismo e o socialismo, não há lugar para posições políticas de apoio ou de participação neste ou naquele governo de gestão burguesa que se apresente  sob a bandeira da “esquerda” ou progressista. O poder será burguês e capitalista ou operário. Os meios de produção serão propriedade capitalista ou social. Soluções políticas dentro do sistema, independentemente das intenções, não só não constituem formas de abordagem da solução socialista, mas ao contrário favorecem a eternização do capitalismo, dão-lhe tempo, cultivam ilusões entre os trabalhadores.

 

Hoje, o nosso Partido tem um programa aprovado no 19º Congresso, o último, em 2013. Neste Programa diz-se. “ o povo grego libertar-se-á das cadeias da exploração capitalista e das uniões imperialistas quando a classe operária com os seus aliados leve a cabo a revolução socialista e avance na construção do socialismo.

 

O objectivo estratégico do KKE é a conquista do poder operário revolucionário, ou seja, a ditadura do proletariado para a construção socialista como fase imatura da sociedade comunista.

 

A mudança revolucionária na Grécia será socialista.”

 

Além disso, acrescenta-se que “As forças motrizes da revolução socialista serão a classe operária como força dirigente, os semi-proletários, os sectores populares oprimidos dos trabalhadores por conta própria das cidades e os camponeses pobres, que se vêem negativamente afectados pelos monopólios e por isso têm interesse objectivo na sua abolição, na abolição da propriedade capitalista, no derrube do seu poder, têm interesse nas novas relações de produção”.

 

De acordo com o que se disse acima, cremos que se entende que o KKE não segue a linha das “alianças de esquerda”, não tem ilusões sobre o papel dos “governos de esquerda”. A história ensina que a lógica das transformações e a rejeição do caminho revolucionário, a rejeição da revolução socialista constitui um muito duro retrocesso e a negação do elemento mais básico que caracteriza um Partido Comunista.

 

Então, o KKE actua com vista à preparação do factor subjectivo na perspectiva de uma revolução socialista, ainda que o período temporal da sua ocorrência seja determinado por condições objectivas, a situação revolucionária.

 

Hoje, sem as condições de uma situação revolucionária, o nosso partido dá prioridade ao reagrupamento do movimento operário, para que este seja capaz de responder às necessidades da luta de classes, para que a classe operária cumpra o seu papel como classe de vanguarda na sociedade, de portador da alteração revolucionária.

 

Reagrupamento do movimento operário significa sindicatos fortes e massivos que lutarão na direcção da classe, apoiados nos operários e operárias, nos jovens trabalhadores, nas mulheres, nos imigrantes, com processos colectivos que assegurarão a participação na tomada de decisões e na sua concretização. Fortalecimento da PAME, do agrupamento de classe no movimento operário, mudança da correlação de forças contra as forças do reformismo, do oportunismo do sindicalismo patronal-governamental, defensores do colaboracionismo entre classes.

 

Células fortes nas fábricas e nas empresas de importância estratégica.

 

O movimento operário combativamente organizado tem por qualquer problema da classe operária, tendo como critério as necessidades actuais, tendo como orientação no conflito com as forças do capital o derrube da exploração capitalista, conquistando um elevado nível de unidade da classe.

 

A classe operária, devido á sua postura de vanguarda, tem de ser protagonista na construção da Aliança Popular que responde à pergunta de como se organizará a luta de rejeição das bárbaras medidas antipopulares, como se irá organizar a ofensiva popular.

 

A Aliança Popular expressa os interesses da classe operária, dos semi-proletários, dos trabalhadores por conta-própria e dos camponeses pobres, dos jovens e das mulheres das camadas populares e operárias na luta contra os monopólios e a propriedade capitalista, contra a integração do país nas uniões imperialistas. A Aliança Popular é social e tem características de movimento com uma linha de ruptura e de derrube. Hoje constitui-se na base da luta comum da PAME, no agrupamento de classe do movimento operário, da PASY no campesinato, da PASEVE nos trabalhadores por conta-própria, do MAS nos estudantes das universidades e dos institutos técnicos, da OGE nas mulheres.

 

Luta por melhores salários e pensões, um sistema de saúde, educação pública gratuita, por qualquer problema popular.

 

Defende a percepção de que a luta pela saída da crise favorável ao povo está estreitamente ligada à libertação das algemas que ligam à UE, da eliminação unilateral da dívida pública.

 

A luta pela libertação das algemas que ligam à UE está ligada com a lutacontra o poder dos monopólios e a luta da classe operária e dos seus aliados, com o poder operário e popular.

 

A Aliança Popular adopta a socialização dos meios de produção concentrados, a planificação central, o controlo operário e social.

 

A aglutinação da maioria da classe operária com o KKE e a atracção de sectores das camadas populares de vanguarda passará por diversas fases. O movimento operário, os movimentos autónomos nas cidades e dos camponeses, e a forma de expressão da sua aliança, da aliança popular com objectivos antimonopolistas-anticapitalistas, com a acção de vanguarda das forças do KKE sob condições não revolucionárias constituem a formação preliminar para a constituição da frente revolucionária popular em condições revolucionárias.

 

Numa situação revolucionária a frente operário-popular em todas as formas da sua acção pode ser o centro do levantamento popular pelo derrube da burguesia, para que prevaleçam as instituições revolucionárias que tomam nas suas mãos a nova organização da sociedade, o estabelecimento do poder operário revolucionário que estará fundamentado sobre a unidade de produção, o serviço social, a unidade administrativa, a cooperativa de produção.

 

É então que a proposta do KKE pelo PODER POPULAR COM SOCIALIZAÇÃO DOS MONOPÓLIOS- LEBERTAÇÃO DAS ALGEMAS DA UE-ELIMINAÇÃO UNILATERAL DA DÍVIDA, que é a única proposta que realista e prometedora que pode pôr um fim definitivo aos memorandos e aos sacrifícios a que se submete o povo no altar da via de desenvolvimento capitalista, se pode realizar.

 

A realização deste caminho depende da vontade popular. O caminho da ruptura com a UE, e o FMI, o capital local e estrangeiro passa, obrigatoriamente, pelo agrupamento com o KKE.

 

  • É a única saída alternativa real pelo povo capaz de utilizar e desenvolver mais as capacidades produtivas do país favorável ao povo. A Grécia tem pré-condições (produção industrial e agrícola, riqueza mineral, pessoal operário e científico especializado) para produzir a maioria dos produtos que o povo necessita. Pode, assim, criar relações de benefício mútuo com outros países. Estas capacidades noutros casos limitam-se ou são usadas de forma errada, ou sabotam-se de forma massiva porque se submetem aos lucros capitalistas, ao desenvolvimento capitalista desigual, aos compromissos com a UE.

 

  • O seu uso requere a libertação das cadeias da propriedade do poder capitalista. É a única proposta que pode assegurar trabalho estável e permanente para todos, serviços de Educação, Saúde e Sanidade exclusivamente públicos e gratuitos.

 

  • É o único caminho que evita a perigosa participação do país nos planes militares da OTAN, dos EUA e da UE, à custa dos povos, é o único caminho para que não sejamos implicados nas contradições dos imperialistas no feroz conflito entre si sobre o modo como partilharão os caminhos do petróleo e do gás natural, caminhos que sempre foram regados com o sangue dos povos.

 

  • Um tal percurso para o derrube não será isolado e solitário, tal como defendem todos demais partidos que defendem o capitalismo. Basear-se-á sobre a luta e a solidariedade dos outros povos, de movimentos e de países que seguirão no mesmo caminho.

 

Hoje, pode haver melhores condições de organização, de reagrupamento do movimento operário, de fortalecimento da aliança popular. Pode haver fissuras na correlação de forças actual e existente na Grécia e internacionalmente.

 

Basta que o povo faça uso da sua experiência, que a transforme em força de luta e de derrube.

 

Então existirá uma forma e planificação para que a nossa proposta se torne realidade, para que o povo trabalhador viva melhor, como deve e merece hoje, de acordo com as capacidades da sociedade. E este caminho passa pela composição de uma grande aliança popular, potente, que lutará contra as novas medidas antipopulares e terá como orientação estável a luta contra os monopólios e o capitalismo. A sua formação e fortalecimento, hoje, também pode ajudar na mudança da negativa correlação de forças, no fortalecimento da organização, na combatividade, no espírito militante da classe operária e demais camadas populares, contra o fatalismo e o servilismo, a submissão do povo aos antigos e novos gestores da barbárie capitalista.

 

Neste percurso faz falta um KKE mais forte POR TODO O LADO, no Parlamento e, sobretudo, nos locais de trabalho, nas grandes fábricas, nos bairros populares, no campo, nos locais da juventude.

 

O KKE constitui a única força que pode apoiar a luta do povo contra a pobreza, o desemprego, a vida degradada dentro e fora da zona euro, com o euro ou com moeda nacional.

 

O KKE é a única força de ruptura com a exploração e o poder capitalistas. É a força que pode levar ao que é realmente diferente, não apenas alternativo, mas a um tipo de organização superior da economia e de toda a sociedade. Com propriedade social, planificação central, controlo operário. Estas são também as pré-condições para uma real libertação dos mercados, do capital, por uma eliminação unilateral e total de toda a dívida, por uma libertação das grilhetas da UE.

 

 

16.09.2015